Biografia do silêncio, escrito por Pablo d’Ors, um padre espanhol, católico, escritor e discípulo zen, apresenta reflexões sobre as próprias experiências com a meditação, que ele considera uma prática boa para a alma. Não se trata de um manual para ensinar os procedimentos para meditação, mas um relato de vivências e opiniões pessoais, além de alguns conselhos sobre a prática. O livro de 192 páginas foi publicado pela editora Planeta e é composto de 49 capítulos curtos, que podem ser lidos rapidamente. A publicação já vendeu mais de 200 mil exemplares e tem na capa uma recomendação de leitura da monja Coen.
Um dos motivos que levou o autor a meditar foi o desejo de vencer como escritor – acompanhado por uma “sede de reconhecimento” e de “posteridade”. Com o amadurecimento, a motivação inicial cedeu lugar ao desejo de “ser melhor, viver mais intensamente, curtir mais a natureza, sentir-me uno com os outros…”. Enfim, o utilitarismo inicial cedeu lugar a novos significados e importância.
O autor diz que começou a meditar por conta própria, sem orientações ou noções básicas. Dado o seu temperamento, manteve-se fiel à prática, que proporcionou o encontro com ele próprio, “tanto ou mais que a literatura” – enquanto propósito inicial. Atualmente realiza conferências e retiros de meditação em todo o mundo.
No livro há uma crítica à tendência de perseguir apenas o que agrada e de repudiar o que desagrada: “… o que nos desagrada pode inclusive nos servir” e “aceitamos um sofrimento quando extraímos algum bem dele…”. “O que nos faz sofrer são nossas resistências à realidade” e a meditação é “a arte da rendição”: “vence quem se rende à realidade”. Logo, “A fórmula é aceitar as coisas como são, não como gostaríamos que fossem”.
A meditação, assim como a arte e o amor, nasce da entrega e a chave para a transformação está em olhar e sorrir. Os nossos desejos devem se ajustar às possibilidades que o mundo oferece e não o contrário: “a meditação apazigua a máquina do desejo e estimula a curtir o que se tem”.
Meditar é “sentar-se em silêncio”, “observar os movimentos da própria mente”, “tornar-se uno com a respiração”, é “purgar o apego”, “estar aqui e agora, não em outro lugar, não em outro tempo”. É querer estar conosco, frequentar a própria consciência, o território interior do qual somos senhores. Enfim, “a terra prometida é você”, “o tesouro está em você” e “viver é transformar-nos no que somos”.
A prática de meditação transforma o indivíduo. O autor decidiu fazer mais algumas coisas, dentre as quais só escrever o que torna as pessoas melhores, visitar os doentes, conversar com os solitários, brincar com uma criança sempre que possível, fazer compras sem pressa, ser cordial com os vizinhos, manter um diário, manter contato regular com os amigos e irmãos, só ler bons livros, além de outras determinações. A meditação o ensinou a “apreciar o comum, o elementar”.
Por fim, o padre católico e discípulo zen aconselha: “Esvazie-se de tudo que não é você […]. Só naquilo que está vazio e é puro é que Deus pode entrar”.
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