No livro Escrevendo com a Alma Natalie Goldberg sugere trocar de ares uma vez ou outra para escrever. A escritora sugere que escrever num café favorece a criatividade.
Além de mudar de ambiente e favorecer a criatividade, não haverá as distrações comuns em casa. É o que ela costuma fazer e é o que se faz nos encontros mensais da Oficina Literária Paulo Caldas.
Encontros presenciais para estimular a criatividade e fortalecer os laços
As reuniões presenciais do grupo geralmente ocorrem no Clube Alemão, no Recife. No final da tarde nos reunimos no espaço da barbearia, inativa naquele momento.
Nesses encontros praticamos atividades literárias, colocamos a conversa em dia e fortalecemos os laços de amizade no grupo. Nada melhor do que conversar pessoalmente, olhar nos olhos, apertar as mãos e sentir o calor humano. E, claro, não há de faltar o café.
Na última reunião, realizada em 07/11/2022, éramos dez, todos curtidos pelo tempo, com idades a partir dos cinquenta e tantos até pouco mais de oitenta. Fui um dos primeiros a chegar e encontrei logo na entrada dois colegas. Na portaria fizemos o cadastramento e reconhecimento facial. A catraca com tecnologia moderna permite então a nossa entrada, acompanhada por um vigilante. Caminhamos entre árvores seguindo um calçamento até chegar a uma grande área delineada por ampla cobertura de madeira – em que há mesas externas com cadeiras, cantina, barbearia e outras instalações. Não tardou e os outros participantes se juntaram ao grupo.
No local das atividades, além das mesas, cadeiras e uma mesa de bilhar – que ocupam o centro da sala, nos cantos há uma cadeira de barbeiro, uma mesinha com gavetas presas na parede, espelhos suspensos e outros portáteis, uma pequena prateleira para loções, cremes e produtos de barbearia diversos, além de lavatórios compactos, todos acessórios na cor preta. Na parede de cor terrosa, várias plaquetas com imagens de motocicletas e palavras geralmente escritas em inglês: “music”, “beer”, “rock in roll” etc. Além disso, na parede oposta há uma galeria de retratos daqueles que foram presidentes do clube.
Escrever, antes do café
O nosso tutor propôs a ironia enquanto tema de escrita do encontro. A tarefa requeria escrever cenários, cenas e diálogos em que o efeito fosse irônico. Dadas as explicações, as canetas logo entraram em movimento, em um frenesi que durou uns bons minutos. Em seguida, concluída a primeira etapa, cada um leu o texto em voz alta. Os efeitos nem sempre eram só ironia, mas também humor – sorrir faz bem à saúde.
Como é usual no ato de escrever, parte dos textos criados serão burilados, outros dormirão em gavetas e quem sabe um dia alguns deles aparecerão em livro individual ou coletânea. O que importa mesmo é exercitar.
Entre sem bater: uma pitada de ironia para estimular a criatividade
Comentei com o grupo um famoso episódio do Barão de Itararé – Aparício Fernando de Brinkerhoff Torelly (Apporelly) – 1895-1971, escritor, jornalista e afiado humorista político, um dos pioneiros do gênero aqui no Brasil. O falso título de nobreza é uma outra história de ironia e humor, fica para depois. Conta-se que ele foi sequestrado da redação de “A Manha” (relativo ao jornal A Manhã, sem til, outra ironia) – pois escrevia sobre política e ainda por cima era crítico do governo de Getúlio Vargas. Apanhou de uns militares. Espirituoso, ao retornar para a redação instalou uma placa na entrada: “Entre sem bater”.
Uma xícara de café, depois de escrever, pois ninguém é de ferro
De volta à oficina literária – na qual entramos sem bater, o final dos encontros presenciais é a hora do cafezinho, com tapioca e outras guloseimas. Ainda se conversa sobre o tema do dia, o que virá no próximo encontro e amenidades. Então, aos poucos, os participantes se despedem, até o próximo.
Natalie Goldberg comenta que no livro Paris é uma Festa Ernest Hemingway fala sobre a experiência de escrever nos cafés da cidade das luzes, onde não raramente estava ao lado de um amigo famoso, como James Joyce. Cidade amiga dos escritores.
Enfim, a escritora americana sugere que façamos uma lista dos lugares visitados, registrando os detalhes da experiência. E acrescento: não importa se a escrita será em cafés ou em parques; em grupo, a dois ou solitária. É bom mudar de ares, carregar sempre um moleskine (aqui, uma metonímia) e aproveitar cada oportunidade para escrever e alimentar a criatividade. Tudo isso faz bem para a alma.
Comente sobre o que achou, a sua opinião é importante.
*Imagem no início do post: Free Images.
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